The Bird.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sobre Almas e Suas Verdades




Ai, ai! Mas as cousas mudam quando o coração está cheio. 

Era assim mesmo, patético: a verdade crua se misturava com a resplandecente covardia, aquela que ninguém tentava entender; eu nunca, nunca encarava diretamente olhar nenhum. Era como abrir um presente inesperado, com laços chamativos e embrulhos coloridos. Havia sempre um pacote dentro do outro, de outro, de outros e de tantos outros: pacotes vazios que nunca terminavam. O presente era sempre o último, tão pequenino... Enquanto alguns olhares eram de fato rasos, tão rasos e simplórios que beiravam a feiúra – como presentes que apareciam ao abrir do primeiro embrulho. Eu jamais gostei de olhares assim; no fim, tão parecidos com o meu. Outros (e evidentemente mais dignos que os primeiros) eram puramente reflexivos. Fitá-los era como me observar em minhas mais diversas formas – eu em seus olhos, que enxergavam somente a mim e a mais ninguém. Mas os piores, aqueles que realmente me amedrontavam, eram os poéticos, os que permitiam ser observados minuciosamente, tão fundo que eu poderia facilmente resgatar pedacinhos de suas almas – aqueles presentes só encontrados depois de muito, muito tempo. Seus desejos mais caros (que ninguém mais poderia conceber, que não eu), seus traumas doloridos e devaneios uma vez esquecidos... O que eu sentia, e sempre senti, era o medo de almas e suas verdades, segredos intrínsecos que não me pertenciam – eu os furtava todos em apenas um olhar. E então passava a senti-los como se fizessem parte de mim. E talvez de fato fosse assim mesmo. Afinal, não se pode esperar muito de uma ladra de almas (e é por isso que eu não olho, nunca). Meu mundinho de preto e branco não suporta o colorido de olhos que não sejam os meus.

Um comentário:

  1. Eu não sei se já disse, mas acho a coisa mais fofa do mundo quando você escreve ~cousa~. <3

    ResponderExcluir