Ai, ai! Mas as cousas mudam quando o coração está cheio.
Era assim mesmo, patético: a verdade crua se misturava
com a resplandecente covardia, aquela que ninguém tentava entender; eu nunca,
nunca encarava diretamente olhar nenhum. Era como abrir um presente inesperado,
com laços chamativos e embrulhos coloridos. Havia sempre um pacote dentro do
outro, de outro, de outros e de tantos outros: pacotes vazios que nunca
terminavam. O presente era sempre o último, tão pequenino... Enquanto alguns
olhares eram de fato rasos, tão rasos e simplórios que beiravam a feiúra – como
presentes que apareciam ao abrir do primeiro embrulho. Eu jamais gostei de
olhares assim; no fim, tão parecidos com o meu. Outros (e evidentemente mais
dignos que os primeiros) eram puramente reflexivos. Fitá-los era como me
observar em minhas mais diversas formas – eu em seus olhos, que enxergavam
somente a mim e a mais ninguém. Mas os piores, aqueles que realmente me
amedrontavam, eram os poéticos, os que permitiam ser observados minuciosamente,
tão fundo que eu poderia facilmente resgatar pedacinhos de suas almas – aqueles
presentes só encontrados depois de muito, muito tempo. Seus desejos mais caros
(que ninguém mais poderia conceber, que não eu), seus traumas doloridos e
devaneios uma vez esquecidos... O que eu sentia, e sempre senti, era o medo de
almas e suas verdades, segredos intrínsecos que não me pertenciam – eu os
furtava todos em apenas um olhar. E então passava a senti-los como se fizessem
parte de mim. E talvez de fato fosse assim mesmo. Afinal, não se pode esperar
muito de uma ladra de almas (e é por isso que eu não olho, nunca). Meu mundinho
de preto e branco não suporta o colorido de olhos que não sejam os meus.
Eu não sei se já disse, mas acho a coisa mais fofa do mundo quando você escreve ~cousa~. <3
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