The Bird.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Ensaio Sobre Um Jardim.

O canto de um pássaro do Leste. O sopro do vento que se aproxima silenciosamente, para só então atropelar o pássaro em sua canção. Seu rufar entorpece a vegetação ainda banhada pelo orvalho, e agora ambos, petit voador anil e ar tempestuoso esboçam numa aurora enevoada um sol, um lá, e outro sol mais adiante, até que o próprio Sol abra seus olhos para a valsa das flores. Vagarosamente suas pálpebras douradas se movimentam, seus cílios enormes escorrendo sob um abrir e fechar de olhos tais quais asas de uma borboleta. Espreguiça-se, manhoso, e um calor morno gradualmente aquece os campos e florestas. Uma porta se abre despretensiosamente – posso ouvir seu ranger prolongado e melancólico. Uma tosse. Dois passos e um regador. O jardineiro olhara para o céu, enquanto as poucas nuvens que restavam navegavam para uma direção qualquer, como um navio perdido em meio à tempestade. O jardineiro tosse novamente, e agora caminha em direção ao jardim. Ao meu jardim. Aproximo-me da janela e observo um reflexo opaco, ignorando-o, porém, movendo cuidadosamente parte de meu corpo para fora; minha cabeça se inclina até contemplar todas as flores que eu mesma plantei, inebriada pelo aroma doce que da terra provém; talvez chova mais tarde, quando as nuvens retornarem, informa-me meu olfato apurado: o ar está mais úmido do que o normal. Há um pássaro do Leste em uma das pequenas árvores. Um sorriso infantil brota em meus lábios ao reconhecê-lo, meu velho companheiro de longas e dolorosas viagens. Sorrio como criança que fui, retorno ao cômodo como a criança que sou. O jardineiro se encaminha para minhas queridas flores, enquanto eu, ainda usando o pálido vestido que usara na tarde anterior (um presente), sigo com as pontas dos pés a linha que o destino me propôs. O jardineiro conversa com as plantas, explicando-lhes o porquê de arrancar-lhes determinadas folhas (o que é, presumo, um bocado doloroso), e eu, mais uma vez, volto para a cama. 

Um comentário:

  1. Que lindo, L.
    Dá pra imaginar perfeitamente todas as cenas e a beleza delas. Foi... Mágico *-*

    "O jardineiro conversa com as plantas, explicando-lhes o porquê de arrancar-lhes determinadas folhas (o que é, presumo, um bocado doloroso)"

    /\ Awn. Que fofo.

    "minha cabeça se inclina até contemplar todas as flores que eu mesma plantei"

    Isso me lembrou aquela parada de ~café que eu mesmo preparei~ ou algo assim que li quando estudava literatura. *---*

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